Documento prevê redução de até 70% das emissões de gases de efeito estufa e pode atrair R$ 600 bilhões em investimentos.

Na última segunda-feira (12), a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes — grupo composto por mais de 50 organizações dos setores empresarial, acadêmico e da sociedade civil — apresentou ao governo federal um plano com 90 propostas voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes. O material foi entregue durante o seminário “Brasil Rumo à COP30”, em Brasília, e projeta a possibilidade de cortar até 70% das emissões do setor até 2050.

O estudo, intitulado “Coalizão dos Transportes – Como transformar o setor de transporte em um contribuidor ativo para a redução das emissões brasileiras”, organiza as propostas por modais, e a parte dedicada à mobilidade urbana foi coordenada pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) e pelo Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável.

A ampliação de modos de transporte de baixo carbono (como trilhos e hidrovias), adoção de combustíveis renováveis e eletrificação da frota são alguns dos eixos que o plano propõe uma reorganização profunda da matriz de transportes brasileira. A estimativa é que as ações propostas possam atrair cerca de R$ 600 bilhões em investimentos ao longo das próximas duas décadas.

O documento foi entregue à diretora executiva da COP30, Ana Toni, e ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência climática, que será sediada em Belém (PA), em novembro. Ambos destacaram a importância do plano como subsídio para a revisão do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que será apresentado na COP30.

A cerimônia da entrega do estudo também contou com a presença de lideranças de diversos setores, entre elas, a diretora executiva da ANPTrilhos, Ana Patrizia Lira. Para ela, o setor de trilhos representa uma das principais alavancas para essa transformação. “A mobilidade urbana de massa, movida por energia elétrica e com baixa emissão, é uma ferramenta imediata e eficaz na construção de um sistema de transporte mais sustentável. Participar desse plano é também reafirmar o papel protagonista do transporte sobre trilhos nessa agenda”, afirmou.

Metas:

A Coalizão aponta que a mudança de rota no setor de transportes é essencial para que o Brasil atinja suas metas climáticas. Atualmente, o setor responde por cerca de 47% do consumo de energia no país e mais de 60% dos combustíveis fósseis utilizados. A meta proposta até 2050 é inverter a lógica atual, dobrando a participação de modos mais eficientes, como ferroviário e aquaviário, e reduzindo significativamente a dependência do transporte rodoviário de carga e passageiros movido a diesel.

Entre as ações previstas estão a expansão da malha ferroviária, estímulos à renovação de frotas urbanas com ônibus elétricos ou híbridos, incentivo à produção e distribuição de biocombustíveis avançados, e políticas de financiamento voltadas à mobilidade sustentável.

Seminários:

Além da entrega do plano estratégico da Coalizão, o seminário “Brasil Rumo à COP30” também abriu espaço para debates técnicos e institucionais que integraram o ciclo de seminários do evento. A diretora executiva da ANPTrilhos, Ana Patrizia, ao lado de representantes de diferentes modos de transporte, participou do painel “A contribuição de cada vertical da cadeia de valor dos transportes para a mitigação das emissões do setor”, moderado pela jornalista Míriam Leitão.

Durante sua participação, Patrizia defendeu a ampliação da oferta de transporte coletivo estruturante no Brasil, com ênfase para o setor metroferroviário. Ela chamou atenção para dados que apontam queda no uso do transporte coletivo nos últimas anos e a consequente elevação da dependência do transporte individual.

“Uma pesquisa da CNT mostra que, em 2017, nós tínhamos, 50% de transporte coletivo contra individual e hoje estamos em 64% individual contra 36% coletivo. É importante que façamos algo diferente. O transporte de passageiros sobre trilhos faz parte dessa mudança na medida em que nós temos externalidades positivas que são necessárias para que haja essa migração do transporte individual para o transporte coletivo. É a questão de um transporte mais rápido, mais confiável, com regularidade e mais sustentável”, disse.

A executiva também reforçou a importância de se estabelecer uma autoridade metropolitana para integrar os sistemas existentes nas grandes cidades. “A gente não pode ver o sistema de transporte público como algo dividido entre os modos de transporte. É importante que tenhamos uma governança integrada que vai trazer essa visão única de planejamento de longo prazo. Uma autoridade metropolitana vai trazer ainda uma integração tarifária, que no fim das contas, vai buscar uma menor tarifa para o usuário. Isso serve como maior atratividade para tirar a pessoa do carro e trazer ela para o transporte público”, concluiu.

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