A VALE SA. receberá nos próximos dias o primeiro navio mineraleiro do mundo equipado com velas rotativas, que visam aumentar a eficiência e reduzir o consumo de combustíveis fósseis, em uma das iniciativas programadas pela mineradora nos próximos anos para diminuir emissões.
O navio do tipo VLOC, um Guaibamax, com capacidade para 325 mil toneladas, também o maior do mundo a receber a tecnologia, passa atualmente pelos últimos ajustes para sair da China rumo ao Brasil, onde receberá o primeiro carregamento de minério de ferro da companhia.
Foram instaladas cinco velas ao logo da embarcação, que ajudam a impulsioná-la, permitindo um ganho de eficiência de até 8% e uma consequente redução de até 3,4 mil toneladas de CO2 equivalente por navio por ano, explicou Bermelho.
“A energia eólica está na origem da navegação comercial, foi esquecida nos últimos séculos, e volta a se reconciliar”, afirmou o gerente de engenharia naval da mineradora brasileira, Rodrigo Bermelho, em entrevista por videoconferência à Reuters.
Caso mostre-se eficiente, a Vale estima que pelo menos 40% da frota esteja apta a receber velas, o que impactaria em uma redução de quase 1,5% das emissões anuais do transporte marítimo de minério de ferro da Vale.
O percentual considera outros 47 Guaibamax e 67 Valemax, este para 400 mil toneladas, da frota utilizada pela Vale.
No entanto, Bermelho afirmou que a empresa estuda a possibilidade de instalar em um número ainda maior de navios.
O piloto, que deverá levar pelo menos um ano, é uma das iniciativas da companhia para reduzir emissões de escopo 3, uma vez que os navios utilizados pela Vale são afretados.
Segundo Bermelho, a navegação é responsável por 3% das emissões de escopo 3, enquanto siderurgia engloba os demais 97%.
Como Funciona:
As velas são rotores cilíndricos, com quatro metros de diâmetro e 24 metros de altura equivalente a um prédio de sete andares.
Durante operação, os rotores giram em diferentes velocidades, dependendo de condições ambientais e operacionais do navio, para criar uma diferença de pressão de forma a mover o navio para a frente, a partir de um fenômeno conhecido como efeito Magnus.
“Esse é o fenômeno que explica o chute de trivela”, apontou Bermelho, referindo-se a uma técnica no futebol que permite que a bola gire após um chute e surpreenda o adversário ao traçar uma trajetória diferente da comum.
O executivo explicou que a equipe de engenharia naval da Vale tem estudos sobre o uso da tecnologia de propulsão a vento desde 2016.
“A gente tem posição geográfica desfavorável em relação a nossos concorrentes… e por isso a gente investe tanto nos nossos navios”, afirmou.
O projeto, segundo ele, acabou mostrando uma vantagem competitiva em relação aos principais concorrentes: a rota Brasil-Ásia tem em média mais vento que a da Austrália–Ásia, ressaltou.
Emissões e Demais Projetos:
Em outra iniciativa, a Vale deverá receber em junho o primeiro navio Guaibamax com Air Lubrication, tecnologia que cria um carpete de bolhas de ar na parte de baixo do navio, permitindo reduzir o atrito da água com o casco.
Com esta estratégia, expectativas conservadoras apontam para uma redução de combustível em torno de 5% a 8%, com potencial de redução de 4,4% das emissões anuais do transporte marítimo de minério de ferro da Vale.
A companhia vem ainda se preparando para a adoção de combustíveis alternativos. Dezenas de VLOCs de segunda geração já em operação foram projetados para futura instalação de sistema de gás natural liquefeito (GNL), incluindo um compartimento sob o convés para receber um tanque com capacidade para toda a viagem.
A empresa está desenvolvendo também um tanque multi-combustível, capaz de armazenar e consumir, no futuro, não só GNL, como metanol e amônia.
Segundo Bermelho, a adoção de tecnologias de eficiência energética como as velas e as bolhas diminuirá a demanda de combustível por navio e facilitará a adoção de combustíveis de baixo carbono.
Um estudo preliminar para os navios Guaibamax, segundo ele, estima que a redução de emissões pode variar entre 40% a 80% quando movidos a metanol e amônia, ou em até 23% no caso do GNL.
As iniciativas contribuem com metas da empresa, que anunciou no ano passado um investimento de pelo menos 2 bilhões de dólares para reduzir em 33% suas emissões de Escopos 1 e 2, até 2030.
Anunciou ainda que irá reduzir em 15% as emissões de escopo 3 até 2035. As metas são alinhadas com a ambição do Acordo de Paris.
***Contém informações da REUTERS